“Cada um sabe onde o sapato lhe aperta”. O ditado popular que mostra que somente cada pessoa sabe exatamente quais são suas dificuldades e como elas as afetam, cabe exatamente em um estudo recente conduzido pela Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná (FEMPAR). Realizado por professores e estudantes da instituição – entre os quais eu me incluo – o estudo denominado “Simulação do Envelhecimento e empatia médica: um estudo longitudinal”, aborda um problema crítico na formação médica: o declínio progressivo da empatia dos alunos ao longo do curso, fenômeno bem documentado na literatura e que impacta diretamente na qualidade do cuidado aos pacientes idosos. Isso é particularmente ainda mais grave no atendimento geriátrico, onde a compreensão das limitações físicas e sensoriais do envelhecimento é fundamental para um cuidado humanizado e eficaz.
Metodologia inovadora
Para entender melhor as reais dificuldades pelas quais os idosos passam, a solução proposta foi utilizar trajes de simulação de envelhecimento, isto é, equipamentos que reproduzem as limitações típicas da velhice, como redução da mobilidade, alterações visuais e auditivas. Esta abordagem de aprendizado experiencial permitiu que os estudantes vivenciassem temporariamente as dificuldades enfrentadas por pacientes idosos, contrastando com métodos tradicionais puramente teóricos.
Os resultados foram reveladores. Embora ambos os grupos (experimental com trajes x controle com aula expositiva) apresentassem ganhos imediatos similares na escala de empatia, apenas o grupo experimental manteve níveis elevados após três meses. O grupo controle mostrou declínio significativo, especialmente na dimensão “cuidado compassivo”. Os aspectos demográficos também influenciaram os resultados: mulheres e estudantes mais velhos demonstraram maior capacidade de empatia com os idosos, sugerindo que fatores individuais modulam a resposta às intervenções educacionais.
Relevância para o ensino em saúde
O estudo ofereceu evidências contundentes no sentido de reformular currículos médicos. A simulação não apenas ensina sobre o envelhecimento, mas também promove a reflexão crítica sobre estereótipos etários e desenvolve competências empáticas mais duradouras. A metodologia utilizada representa uma mudança de paradigma: do ensino baseado na transmissão de conhecimento para o aprendizado transformacional, onde os estudantes desenvolvem insights profundos através da experiência direta.
Conclusões para a prática educacional
A incorporação de experiências sensoriais e vivenciais no ensino médico não é apenas desejável, mas também necessária para formar profissionais mais empáticos. O estudo demonstra que investir em metodologias experienciais produz benefícios sustentados, combatendo o etarismo e melhorando a qualidade do cuidado aos idosos – população crescente que demanda atenção especializada e humanizada.
*O conteúdo dos artigos assinados não representa necessariamente a opinião do Mackenzie.
Sobre a Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná
A Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná (Fempar) possui 55 anos de tradição no curso de Medicina. Faz parte do seleto grupo de escolas de saúde acreditadas no Brasil e alcançou nota máxima na mais recente avaliação do MEC. Sob gestão do Instituto Presbiteriano Mackenzie (IPM) desde 2019, conta com estrutura avançada, novas tecnologias, modernos laboratórios e campo de estágios no Hospital Universitário Evangélico Mackenzie (HUEM), que é o maior prestador SUS do estado do Paraná e conta com todas as linhas de cuidado, até a alta complexidade.