Urucum de Paranacity conquista a primeira Indicação Geográfica do Brasil para o fruto

Após colheita de 1,2 mil quilos por hectare na última safra, produtores de urucum de Paranacity e de Cruzeiro do Sul comemoram a conquista do registro de Indicação Geográfica (IG) por Indicação de Procedência (IP), a primeira do Brasil para esse tipo de fruto. O registro, concedido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), chancela a marca “urucum de Paranacity” e reconhece a excelência do produto, que se destaca pelo alto teor de bixina e pelo manejo diferenciado.

Para os agricultores da região, o selo representa mais valor agregado, acesso a novos mercados e a consolidação de uma identidade produtiva com potencial nacional e internacional. O registro foi divulgado nesta terça-feira (6) após cerca de dois anos de trabalho. Isso significa que o produto foi reconhecido pela sua qualidade, que deriva de características climáticas e do solo, mas especialmente do manejo, com plantio e cuidados adequados para atingir o melhor do fruto.

Basta macerar as sementes de urucum nos dedos para notar o potencial corante natural vermelho do fruto. Enquanto os comuns têm cerca de 3% de bixina (o pigmento), o urucum de Paranacity atinge mais de 5%. O produto é utilizado em indústrias têxteis, cosméticas, farmacológicas, alimentícias e como condimento – nas cozinhas dos lares, é conhecido como “colorau” ou “colorífico” e utilizado para dar cor a variados pratos.

Urucum é conhecido como “o ouro vermelho”. Foto: Adriano Oltramari.

Expectativa

A produção local do fruto data do fim da década de 1970 ao início dos anos 1980. Os municípios são tradicionalmente conhecidos pelo cultivo do urucum e, aliás, são os maiores produtores do Paraná, concentrando 600 hectares de urucuzeiros – originários da região amazônica.

Ultimamente, em anos de preço bom, o quilo sai a cerca de R$ 22. Com a IG, a expectativa é que a comercialização seja ainda mais lucrativa. Além disso, os agricultores, que vendem quase toda a produção para São Paulo, ampliarão suas chances de negociações e de exportação direta. Outro ganho com a IG é disseminar boas práticas de cultivo.

Pioneiro na produção, João Trindade Lopes plantou o primeiro pé de urucum no município em 1981. A família tem 51 alqueires dedicados à produção do fruto, enviada para São Paulo e para alguns estados do Nordeste. Para o neto do pioneiro, Victor Salvadego Lopes, a IG ajudará a agregar valor ao produto.

“Meu avô conta que ninguém sabia como cultivar quando ele começou. Fez mudas, usou muita mão de obra e, com o passar dos anos, estabeleceu a cultura que se disseminou na região. Com a IG, esperamos atrair novos compradores”, comenta Victor Lopes.

Luta pelo reconhecimento

O trabalho pela conquista da IG foi realizado pela Associação dos Produtores de Urucum de Paranacity e Região (Aprucity), Sebrae/PR, prefeituras de Paranacity e de Cruzeiro do Sul, Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR), Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab) e Universidade Estadual de Maringá (UEM).

Foi preciso cumprir uma série de requisitos, como a criação de um Caderno de Especificações Técnicas para a padronização do manejo, dentre outros documentos para atestar a distinção e a qualidade da produção local.

Estamos empenhados, agora, em trabalhar no desenvolvimento da cadeia do urucum para agregar mais valor e para conseguir novos mercados, bem como ajudar o município e os agricultores na implementação de um centro de inovação e referência, o que é um sonho da região e que pode transformar a realidade local.

Luiz Carlos da Silva, consultor do Sebrae/PR.

O trabalho se iniciou na gestão passada, de Junior Cocco, e continua sob o trabalho do prefeito José Cláudio Batista.

“A conquista da Indicação Geográfica é motivo de muito orgulho para Paranacity. Esse reconhecimento nacional comprova aquilo que a gente sempre soube: o nosso urucum é diferenciado. O trabalho dedicado dos nossos produtores, aliado às condições únicas do nosso solo e clima, agora tem um selo que reforça a qualidade e abre portas para novos mercados. Esse registro valoriza e projeta Paranacity como referência na produção sustentável e de excelência do urucum no Brasil”, comenta Batista.

Indicações Geográficas

O Paraná é o segundo estado brasileiro com a maior quantidade de IG, contabilizando 17. Além do urucum de Paranacity, são Indicações Geográficas: cracóvia de Prudentópolis; mel de Ortigueira; queijos coloniais de Witmarsum; cachaça e aguardente de Morretes; melado de Capanema; cafés especiais do Norte Pioneiro; morango do Norte Pioneiro; vinhos de Bituruna; goiaba de Carlópolis; mel do Oeste do Paraná; barreado do Litoral do Paraná; bala de banana de Antonina; erva-mate São Matheus; camomila de Mandirituba; uvas finas de Marialva e broas de centeio de Curitiba.

Além desses 17 reconhecidos, há ainda uma Indicação Geográfica concedida a Santa Catarina, que envolve também municípios do Paraná e do Rio Grande do Sul: o mel de melato da bracatinga do Planalto Sul do Brasil.

O Estado ainda possui 12 produtos com a IG depositada, mas ainda em processo de análise no INPI: o mel de Capanema; pão no bafo de Palmeira; tortas de Carambeí; mel de Prudentópolis; queijos do Sudoeste do Paraná; carne de onça de Curitiba, café de Mandaguari, ponkan de Cerro Azul; ovinos e caprinos da Cantuquiriguaçu; ginseng de Querência do Norte; café da serra de Apucarana e ostras do Cabaraquara.

Foto Adriano Oltramari

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