No consultório, uma pergunta se repete com frequência quase ritualística: “Doutor, será que foi a água mineral que me deu essa pedra no rim?” Essa dúvida, comum e compreensível, alimenta um dos mitos mais resistentes da urologia. Mas afinal, será que existe mesmo uma relação entre o consumo de água mineral e a formação de cálculos renais?
Pedras nos rins surgem quando a urina fica supersaturada por determinadas substâncias, como cálcio, oxalato, ácido úrico, entre outras. Quando esses elementos se acumulam em excesso — ou quando há pouca água para diluí-los —, formam-se cristais. Esses cristais, com o tempo, se agrupam e formam os cálculos. Cada tipo de pedra tem sua composição e fisiopatologia específicas, o que torna esse processo mais complexo do que parece à primeira vista.
É verdade que algumas águas minerais possuem concentrações mais elevadas de certos minerais, como cálcio, magnésio ou bicarbonato, dependendo da fonte e da marca. Isso leva muita gente a concluir que o consumo regular dessas águas poderia contribuir para a formação de pedras nos rins. A lógica parece fazer sentido: se há mais cálcio na água, então haveria mais cálcio sendo excretado na urina — e, com isso, mais risco de cálculo. Mas a medicina não se baseia em achismos ou em suposições intuitivas. Ela se fundamenta em evidências.
E o que dizem os estudos? Vários trabalhos sérios e bem conduzidos analisaram diferentes tipos de água mineral — com gás, sem gás, de diversos pHs e composições minerais — e chegaram à mesma conclusão: o consumo de água mineral não aumenta o risco de formação de cálculo renal. Na verdade, o oposto é verdadeiro. Uma boa hidratação, seja com água da torneira, filtrada, engarrafada ou mineral, é uma das principais medidas preventivas para quem tem tendência a formar cálculos. Quanto mais água pura o paciente consome ao longo do dia, menor a concentração urinária de substâncias que favorecem a cristalização. A equação é simples: mais líquido, menos pedras.
Diversas entidades médicas e científicas, como a Sociedade Brasileira de Urologia e a American Urological Association, orientam de forma clara que a hidratação abundante é o principal fator modificável para reduzir a formação de cálculos. E isso independe do tipo de água. O que realmente importa é o volume total ingerido ao longo do dia — e não se ela vem da fonte, da garrafa ou do filtro.
Dito isso, podemos esclarecer de forma definitiva: água mineral potável não causa pedra nos rins. O que contribui para o problema é a falta de água, não a presença de certos minerais. Portanto, beba água, escolha a que mais gostar ou tiver acesso, e cuide bem da sua saúde renal. Sem culpa — e sem mitos.