Rússia é boicotada na cultura, de Hollywood e Cannes à Bienal de Veneza

Do Festival de Cannes à Bienal de Veneza, a Rússia virou pária da indústria cultural depois que seu presidente, Vladimir Putin, atacou a Ucrânia na semana passada e deu início à mais grave crise militar na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

Nos cinemas, Disney, Sony e Warner, três dos maiores estúdios de Hollywood, não vão exibir seus lançamentos no país até que Putin anuncie um cessar-fogo. Entre eles, estão a releitura de “Batman” com Robert Pattinson, “Morbius”, sobre o vampiro anti-herói da Marvel interpretado por Jared Leto, e “Red – Crescer É uma Fera”, da Pixar.

O boicote vai além das fronteiras de Hollywood. Após a Academia de Cinema da Ucrânia ter criado uma petição virtual pedindo retaliação à Rússia, o festival de Gasgow, que começa nesta quarta-feira no Reino Unido, baniu dois filmes russos “No Looking Back” e “The Execution”.

O festival de Estocolmo, que ocorre a partir de março, seguiu os mesmos passos e retirou de sua programação todos os filmes com financiamento estatal russo. O Festival de Cannes, por sua vez, não vai aceitar a presença de delegações oficiais da Rússia ou de qualquer pessoa ligada ao governo de Putin no evento, previsto para maio.

O festival, no entanto, não especificou se o boicote atinge qualquer filme russo. “Saudamos a coragem de todos aqueles que vivem na Rússia e estão correndo risco ao protestar contra a invasão na Ucrânia. Entre eles, há artistas e cineastas que nunca deixaram de lutar contra o regime atual e que não podem ser associados às ações inaceitáveis [de Putin]”, disseram os organizadores em nota à imprensa.

O único festival que não acatou o pedido da academia ucraniana foi o de Locarno, programado para agosto na Suíça, com a justificativa de que o boicote fere a liberdade de expressão e do cinema.

Nas artes plásticas, as retaliações já chegaram à Bienal de Veneza. Embora a mostra não tenha proibido a exibição de nenhuma obra, os artistas russos Kirill Savchenkov e Alexandra Sukhareva decidiram retirar seus trabalhos do pavilhão russo, dizendo que “não há espaço para arte enquanto civis estiverem morrendo sob o fogo de mísseis”.

Raimundas Malasauskas, curador do pavilhão nacional da Rússia, onde a dupla teria suas obras expostas, também renunciou sua participação da Bienal de Veneza. Com isso, a área ficará fechada durante o evento, que abre as portas em abril.

A participação da Ucrânia é incerta, já que curadores e artistas ucranianos também se retiraram da mostra e só voltarão atrás se a guerra for encerrada. “Não podemos continuar trabalhando no projeto do pavilhão porque nossas vidas estão em risco”, disseram os curadores Maria Lanko, Lizaveta German e Borys Filonenko em nota à imprensa.​

Na música, o Green Day cancelou um show que faria em Moscou em maio e Valery Gergiev, o maior maestro russo e um dos mais famosos do mundo, próximo de Putin, tem colecionado reveses desde o início da guerra.

Giergev teve suas apresentações com a Filarmônica de Viena canceladas no Carnegie Hall, uma das mais tradicionais casas de espetáculos de Nova York, assim como no La Escala, em Milão, na Itália.

Ele também foi demitido da Filarmônica de Munique, na Alemanha, onde tinha o cargo de maestro-chefe. O prefeito da cidade alemã, Dieter Reiter, disse que pediu que Gergiev se manifestasse sobre a guerra, mas, devido ao seu silêncio, não havia alternativa senão a demissão.

Nem o balé russo, historicamente celebrado mundo afora, sobrevive à onda de boicotes. A Royal Opera House, em Londres, cancelou uma temporada de apresentações do Balé Bolshoi programada para este ano. O Balé Estatal Russo da Sibéria também enfrenta cancelamentos em Northampton e Wolverhampton, na Inglaterra, e em Dublin, na Irlanda.​

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